Publicado no SBE Notícias N° 322, em 01/08/2015, por Marcelo Rasteiro (SBE 1089) – Presidente da SBE
Eldorado foi a capital brasileira da espeleologia de 15 a 19 de julho recebendo mais de 200 pesquisadores para o 33º Congresso Brasileiro de Espeleologia (33º CBE). Além da apresentação de mais de 80 trabalhos, o congresso contou com minicursos, palestras, debates, apresentações culturais e visitas ao carste da região.
A organização de um evento do peso do CBE é sempre uma tarefa hercúlea, ainda mais quando encampamos levá-lo para longe das grandes capitais, mas não tomamos as decisões considerando apenas a comodidade ou o conforto. Levamos o congresso onde a espeleologia deve estar, onde a discussão se faz necessária. Assim foi a decisão de realizar o 33º CBE, no Vale do Ribeira, extremo sul do Estado de São Paulo.
A região guarda uma das maiores concentrações de cavernas do país, com importância no cenário espeleológico internacional. Nesta edição do evento comemoramos 50 anos de pesquisas espeleológicas, já que em 1964 pesquisadores e desportistas se reuniram na entrada da Caverna Casa de Pedra, o maior pórtico de caverna do mundo, para a realização do 1º Congresso Nacional de Espeleologia. Desde então muita coisa mudou, mas as cavernas da região continuam conservadas e hoje servem à pesquisa e ao turismo, uma das mais importantes fontes de trabalho do Vale do Ribeira.
Na solenidade de abertura, o evento já mostrava que seria um sucesso. Com a sala lotada, a Sra. Patrícia Montenegro, gerente da Votorantim Cimentos, anunciou a intenção da empresa em doar a área da Caverna dos Paiva para ser incorporada ao Parque Estadual de Intervales, uma importante iniciativa em prol da conservação de uma das mais importantes cavernas do Alto Ribeira. O Prefeito Municipal, Sr. Eduardo Fouquet e outros representantes do poder público manifestaram seu apoio ao desenvolvimento da espeleologia no Vale do Ribeira.
Neste congresso tivemos a oportunidade de discutir sobre a conservação das cavernas brasileiras frente às ameaças de uma legislação que prioriza os estudos e classificação das cavernas apenas para sua destruição em processos de licenciamento, com lacunas que trazem insegurança e descontentamento de todos os lados. Baseado nas discussões e nas apresentações de trabalhos, foram aprovadas oito moções, além de incitar o debate e certamente a realização de novas pesquisas e ações.
Os sete minicursos e as visitas técnicas às cavernas da região devem incentivar uma maior atuação dos espeleólogos e interação com a comunidade do Vale do Ribeira, especialmente neste momento em que começa a implantação dos Planos de Manejo Espeleológico para mais de trinta cavernas da região, uma iniciativa sem precedentes no país e que deve ser implantada com celeridade, cabendo à sociedade a cobrança, mas também o acompanhamento e auxílio à sua efetiva execução.
Os 81 trabalhos aprovados integram os Anais do Congresso e mostram a evolução das pesquisas em diversas áreas do conhecimento. Também é possível notar uma mudança no perfil dos pesquisadores com o crescimento da espeleologia profissional ligada a mineradoras ou empresas de consultoria, o que certamente é um incentivo à produção de trabalhos, mas não diminui a importância das pesquisas acadêmicas e voluntárias, pelo contrário, amplia a necessidade de reunir pesquisadores com motivações e visões diferentes, promovendo o debate e a troca de informações, o que só vai colaborar com o crescimento de nossa ciência espeleológica.
Agradecemos a todos que ajudaram a viabilizar o 33º CBE, as empresas patrocinadoras, as entidades e órgãos públicos apoiadores do evento e a todas pessoas que de alguma forma tornaram o evento possível, também agradecemos a todos espeleólogos pelos trabalhos apresentados.
Até o próximo Congresso em 2017!